A Academia Brasileira de Letras está promovendo um concurso de contos pelo Twitter. Tem prêmio. Moderníssimo! Mas só pode participar quem tem vocação para o modismo. É preciso seguir a Academia no Twitter. Tô fora! Mas gostei do desafio de tentar contar histórias em 140 caracteres. Estes pequenos contos só concorrem ao crivo de vocês, leitores.
Pelos ares
Ela quer separação. De outra vez levou anos, presa em reparações que não vieram. Tem medo e preguiça do caos. E sorte — que chegou de avião.
Vida simples
Pretinha, cedo levou bordoadas. Foi também atropelada e abandonada. Procurou e achou vida simples na praia. Companhia, comida, uns agrados.
A vida mandou ver I
Gravidez tardia. O médico alertou para os riscos. Não quiseram saber. Filho é filho. A vida encarnou o exame não feito e a alegria de sofrer.
A vida mandou ver II
Aos 80, hérnia. No 85, marcapasso. No 89, pedra na vesícula. Deixou o hospital. Parabéns! Soube que faz triathlon? Não, dou aulas de teatro.
Freud explicou
Uma não queria viajar; outra, se safar de decisões. Ele queria o porta-tinteiro novo. Tudo foi ao chão em competentes gestos desastrados.
Um sabichão
Perdido nas aulas. Olho vivo, filho, fica na frente. Não adianta, mãe, eu converso comigo mesmo. Tinha 7 anos. Hoje é dos números. Bom papo.
O cobra
Ele era um craque. Foi picado por uma falsa coral. O saber reconhecido em títulos o deixou na mão. Saiu da vida e até hoje está na história.
Tempos modernos em 140 toques, por Lélia Amaral
Foto: Sergis Blog, no Flickr, sob licença Creative Commons
Lelia,
ADOREI!!!!
E me emocionei em 140 caracteres.
Que saco essa cláusula moderna, porque para mim você é uma séria candidata ao premio!
Lélia Amaral, nome que o país ainda não conhece mas que emociona com seus excelentes contos. ABL que se cuide!
Tanya, tô achando que a vida é mais emocionante mesmo em poucas palavras.
Fabio, estou me especializando em contos para fifties que só leem antes de dormir. Menos de um parágrafo por noite todo mundo consegue, não é?
Lélia,
Bem legal. Difícil isso.
É difícil, mas divertido. Você conta a história, depois vai cortando, cortando, trocando palavras grandes por pequenas, o complicado pelo simples até chegar quase ao fotográfico, em que você é mestre. Experimente…
ADOREI todas!
Tanto que aproveito o espaço pra fazer um também, abaixo.
Qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência:
Amiga, bela escritora. O senão é o maridão: grande cara, concorda, discordando; registra verdade em Cartório. E ela é quem tem sempre razão.
Mas a “Cobra”, precisou coragem. É muito dolorosa…
Lelia,
vou entrar para o coro do Adorei!!!!
Li as instruções que vc fez para o Gil e achei ainda mais interessante. Se todos os falantes conseguissem ir cortando, cortando e chegassem ao que interessa não seria maravilhoso?
Geraldo, ficou ótimo, faça mais, você tem a mão e o espírito. O “cobra” não é doloroso, mas é fato que ainda hoje tropeço na história em lugares inesperados. Essa “cobra” não morre…
Rê, que tal adotar no consultório? “Você tem 50 minutos para pensar e 140 caracteres para falar…”
Lélia, não cheguei a tempo para o seu ‘help!”, desculpa! Mas vc sempre me faz pensar em como é uma delícia ler quem escreve bem…andei brincando com hai kais moderninhos nas minhas férias já tão lá longe no início do ano…isso é muuuuuuuuuuuuuuitíssissimo (onde põe o acento?) melhor! É um primor de síntese! Lembra, sabem quem, o Millôr…
Adília, com o help nem havia tanto problema, é que sou dinossáurica nessa terra digital. E estou mesmo me identificando com o Millôr: nos cabelos brancos, claro. E por que não atacar de hai kais num próximo post? Manda ver!
Lélia, a história da Regina de ir cortando, cortando, até ficar o essencial, é em essência o que Rodin dizia fazer ao criar suas esculturas: pegar um bloco de mármore e tirar os pedaços que achava não precisar.
Vc encontrou o caminho. Go ahead!