Agora eu queria ter um menino
que me mostrasse os caminhos
de todas as verdades das flores,
e me descerrasse à vista as fartas cores
que há tempos eu venho ocultando
embaixo da máscara gasta e escura.
Agora eu queria ter um menino
que me pusesse na alma um destino
de só a ele servir, sem trégua ou descanso,
como monumento ao qual eu adorasse
vinte e quatro horas do dia, mas no final,
no corpo, nenhum sinal de cansaço.
Agora eu queria ter um menino
que me acordasse de súbito feito um sino
tocando ao amanhecer quente de verão
e me pedisse que lhe desse o pão
e o fruto que eu, por descuido e medo,
havia negado a mim mesmo quando pequeno.
Agora eu queria ter um menino
que corre, pula, grita, faz caretas e mimos,
mas que tem também momentos
em que olha melancolicamente o poente
e o retorno de bandos de pássaros
ao espírito que teima em só pousar.
Agora eu queria ter um menino
que, indiferente ao que penso e sinto,
faz de sua vontade um brinquedo –
delicado mecanismo sem pensamentos
com catracas, polias, alavancas e aletas –
que alça o pesado coração com borboletas.
Agora eu queria ter um menino
– sem vergonha de ser menino –
que me despisse das roupas onde estou
e, complacente como uma nuvem que passa,
desaguasse a chuva que amanhã virá
sobre tantas mágoas que guardei ontem.
Menino, desce do seu altar e vem.
Não para sofrer nas paixões
o que o esperam como deus.
Antes, talhe-me qualquer verso seu
na folha branca, árida e humana,
e faz da vida um poema de eterna infância.
Coisa mais linda este menino que chega para nos lembrar que temos um menino dentro de nós, que renasce a cada momento .
Paulomeninopoeta que nos convida com palavras a lavar as mágoas e alçar o coração no voo das borboletas.
Querido Paulo, chorei de alegria e emoção com seu poema… O menino é nosso, que estava conosco o próximo ano inteiro