Querida Sylvia,
Tenho 65 anos. Olho no espelho e sei que tenho 65 anos. Mas não
me sinto a velha de 65 que talvez eu devesse me sentir. Minha mãe
parecia velha com a minha idade, mas eu não…Não sou mais uma
garota, não quero ser, mas não sou velha. Sou o que?
Luciana
Querida Luciana,
Interessante sua questão! Parece que perdemos a noção de
quem somos.
O bombardeio da mídia é de tal monta, somos moças, somos
velhas, somos bem conservadas, como se fôssemos geleia ou fruta
em compota! Botox, plástica, cremes, dietas para emagrecer, para
desintoxicar, para ficarmos com a pele de bebês, com os cabelos
brilhantes. Os recursos à disposição, outra saraivada de ofertas.
O espelho lhe devolve uma mulher que se enxerga, que se
sente bem, que sabe que não é uma garota, que vê que não
é uma velha, tal como foram nossas mães.
Que não quer parecer uma garota, que sabe de sua história,
se apropria dela, sente-se bem com sua capacidade de viver, que
contornou obstáculos, tropeços, quedas e desilusões, e a partir
dessa experiência construiu o que vive agora, continua a construir
sua vida.
Que nesta altura, sabe que precisa se reinventar, tem
curiosidade a respeito do amanhã, que ontem mesmo foi a um jantar
e na sua mesa estava uma linda mulher de seus quarenta e poucos
anos, no auge de seu poder, e pode olhar para ela com admiração,
sabendo que passou por lá e que aquele lugar já não lhe pertence.
Sorriu de prazer e um pouco de nostalgia, então tomou um
longo gole de saquê gelado, e virou-se para o companheiro de mesa,
interessado na história que estava contando.
Será que pode se reconhecer?
Sylvia Loeb é psicanalista e escritora. Visite seu site em sylvialoeb.wordpress.com ou acesse sua página no Facebook: @SylviaLoeb